Quando 2 se tornam 1

Haline Barbosa
4 min readNov 23, 2020

Até que estejam ajustados o suficiente nessa relação de entrega e confiança. Unidos, vibrantes em busca do mesmo objetivo.

Eu costumo assistir ao Sunday Night Football e nesse domingo fui dormir impressionada com a atuação de Aaron Rodgers. Era uma situação adversa, final de jogo, os Packers perdiam por uma diferença de 3 pontos. O ataque estava em péssima posição de campo. Terceira descida para 10 jardas e o jogo já parecia perdido. Mas Rodgers acertou um passe incrível, uma linda recepção de Adams, que colocou o time em posição de marcar e levar o jogo pra prorrogação.
É verdade que eu não sou nenhuma expert em futebol americano. Não acompanho assiduamente a temporada regular da NFL e sequer tenho um time pra chamar de meu. Mas ainda assim é um jogo que me fascina.
É curioso pensar que cada time é composto por duas equipes: a de defesa e a de ataque.
São 11 jogadores que entram em campo para defender o time quando a posse de bola é do adversário. Quando se encerra a campanha adversária e a posse de bola retorna, entram em cena os 11 jogadores de ataque e todos os 11 defensores saem de campo (temporariamente).
Eu sempre achei difícil essa coisa de ter que “abandonar” o campo pra outra equipe atuar. Mas a gente precisa aprender a depender, né?! Quem é capaz de fazer tudo?

Eu comecei a me fascinar pela relação de confiança que esse jogo exige. É preciso confiar na equipe de defesa depois de não converter um Touchdown.
É preciso confiar na equipe de ataque depois que a defesa consegue, espetacularmente, uma interceptação. É preciso confiar que o outro fará o que só ele pode fazer. Ninguém mais poderia ter acertado aquele passe, além de Rodgers naquele momento.
Quando a defesa está em campo, a equipe de ataque é impotente. Quando o ataque está em campanha, a equipe de defesa nada pode fazer. Mas ao mesmo tempo, a defesa depende do ataque e trabalha por ele e o contrário também é verdade.
Cada um com o seu papel, o executando da melhor maneira possível, a fim de alcançar o mesmo objetivo: vencer! É aí que 2 se tornam 1.

Se analisarmos mais a fundo, a confiança é a base pro sucesso no futebol americano. Será que é no futebol americano?
O que faria o Wide Receiver correr de costas para o QB, abrir campo, furar a defesa e esperar um lançamento longo se não fosse a confiança de que o QB seria capaz de executá-lo? A confiança é o ajuste fino.
E mesmo após jogadas frustradas, escolhas erradas ou situações adversas, é preciso confiar que haverá mais uma descida. É uma nova oportunidade de corrigir o erro e confiar no outro, além de entregar tudo por ele. Não deu certo? É hora de deixar o campo temporariamente e confiar na atuação da outra equipe, sabendo que novas estratégias serão traçadas e que certamente haverá mais uma chance na campanha seguinte. Ainda não deu certo? Sem essa de abalar a confiança. Pode acreditar que continuarão arriscando, porque onde há confiança, há espaço pro improvável. Uma hora vai, porque em várias vezes já foi!
O Packers não venceu a partida depois de conseguir levá-la para prorrogação. Parecia que seria uma daquelas noites de virada incrível. Rodgers afiadíssimo, mas os Colts venceram na noite de domingo. Não foi o resultado esperado para os Packers, mas certamente o time seguirá forte porque demonstraram do que são capazes ao arriscar e não arregar.
O segredo é saber confiar que mesmo quando não faço bem o meu papel o outro ainda estará lá. Confiar que no meu momento brilhante o outro também estará lá. É a defesa entregando tudo que tem para o ataque brilhar. É o ataque atuando para a defesa trabalhar menos pressionada. Dois se tornando um.
Até que estejam ajustados o suficiente nessa relação de entrega e confiança. Unidos, vibrantes em busca do mesmo objetivo.

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